Linfedema Secundário ao Tratamento Oncológico: O que é importante saber

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O linfedema secundário ao tratamento do câncer é um acúmulo de líquido nos tecidos corporais, geralmente após cirurgias como a linfadenectomia, usada no tratamento de doenças como o melanoma. 

A incidência varia entre 12% a  38%, dependendo do tipo de tratamento e dos fatores de risco envolvidos. Embora o linfedema geralmente apareça em média dentro de um ano após a cirurgia, seu surgimento é imprevisível e pode ocorrer a qualquer momento, desde alguns meses até vários anos após o procedimento.


Por que isso acontece?

O sistema linfático é responsável por drenar o excesso de fluido dos tecidos e devolver à circulação sanguínea. Quando os linfonodos são removidos, a capacidade do sistema linfático de drenar o fluido pode ser reduzida, resultando em acúmulo de linfa no local afetado.

Quais os fatores de risco?

  • Extensão da linfadenectomia / número de linfonodos retirados;
  • Tratamento de radioterapia em região de linfonodos;
  • Infecções ou traumas no membro afetado;
  • Alterações vasculares prévias;
  • Sedentarismo;
  • Excesso de peso (índice de massa corporal [IMC] ≥25 kg/m2) ou obesidade (IMC ≥30 kg/m2);


Quais são os sintomas?

Os principais sintomas incluem:

  • Aumento do volume no membro ou região afetada;
  • Sensação de peso ou aperto na região;
  • Endurecimento e espessamento da pele (fibrose);
  • Dificuldade para movimentar o membro afetado;
  • Maior risco de infecções como erisipela ou celulite;


Tratamento

O linfedema é considerado uma condição definitiva, e portanto, não há cura. Mas seu controle é essencial e resultados significativo são possíveis por meio do tratamento clínico realizado por fisioterapeutas especializados.

A Terapia Descongestiva Complexa (TDC) é considerada o tratamento prioritário para o manejo do linfedema, sendo amplamente recomendada para pacientes com linfedema secundário a tratamentos oncológicos.  Esta visa reduzir o volume do membro, prevenir complicações como fibrose e infecções, e melhorar a funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes.

A TDC consiste em quatro intervenções principais que atuam em conjunto para otimizar os resultados terapêuticos:

  • Drenagem Linfática Manual (DLM): A DLM é uma técnica que utiliza movimentos suaves e rítmicos para estimular o sistema linfático, promovendo a drenagem da linfa acumulada em direção a áreas com fluxo linfático preservado.
  • Terapia de Compressão: Seja por meio de bandagens multicamadas, vestimentas ou meias elásticas, é essencial para manter o equilíbrio de pressão nos tecidos e prevenir o retorno da linfa a sua o espaço intersticial. A compressão estimula o fluxo linfático e venoso, além de ajudar a remodelar os tecidos que podem ter sido afetados pela fibrose.
  • Exercícios Terapêuticos (Cinesioterapia): A cinesioterapia envolve a prescrição de exercícios específicos para estimular o bombeamento muscular e, consequentemente, auxiliar no fluxo linfático. Movimentos ritimados e de amplitude de movimento variados são indicados para melhorar a mobilidade do membro afetado e prevenir rigidez articular. Além disso, o exercício regular previne o acúmulo de linfa e auxilia na manutenção do tônus muscular. Importante ressaltar que quando associados à compressão, melhores resultados são esperados.
  • Cuidados com a Pele: Pacientes com linfedema apresentam maior risco de infecções, como erisipela e celulite, devido ao comprometimento do sistema linfático. Portanto, cuidados adequados com a pele são imprescindíveis. Isso inclui manter a pele limpa, hidratada e protegida de lesões, minimizando o risco de fissuras e infecções que podem agravar o quadro.

A TDC é dividida em duas fases. A Fase Intensiva, com duração de 4 a 8 semanas, foca na redução do edema por meio da DLM, exercícios associado à compressão. Após essa etapa, vem a Fase de Manutenção, que busca preservar os resultados alcançados, com o uso contínuo de meias compressivas, exercícios diários e cuidados com a pele.

Fases e Componentes da Terapia Descongestiva Complexa (TDC)

Fonte: Adaptada pelo autor

O manejo do linfedema demanda uma abordagem multidisciplinar, com ênfase na detecção precoce, terapias direcionadas e cuidados de suporte, a fim de otimizar os resultados para os pacientes.  Além disso, a atualização contínua de profissionais e pacientes, por meio de materiais informativos e discussões multidisciplinares, como as do Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM), é essencial para aprimorar o manejo do linfedema.

É fundamental que os pacientes com linfedema consultem profissionais de saúde especializados para obter um plano de tratamento apropriado.

Referências

Deban M, Vallance P, Jost E, et al.: Higher Rate of Lymphedema with Inguinal versus Axillary Complete Lymph Node Dissection for Melanoma: A Potential Target for Immediate Lymphatic Reconstruction? Curr Oncol 29 (8): 5655-5663, 2022.

Gjorup CA, Groenvold M, Hendel HW, et al. Health-related quality of life in melanoma patients: Impact of melanoma-related limb lymphoedema. Eur J Cancer. 2017;85:122-132. doi:10.1016/j.ejca.2017.07.052

Lawenda BD, Mondry TE, Johnstone PA. Lymphedema: a primer on the identification and management of a chronic condition in oncologic treatment. CA Cancer J Clin. 2009;59(1):8-24. doi:10.3322/caac.20001

Torgbenu E, Luckett T, Buhagiar MA, Phillips JL. Guidelines Relevant to Diagnosis, Assessment, and Management of Lymphedema: A Systematic Review. Adv Wound Care (New Rochelle). 2023;12(1):15-27. doi:10.1089/wound.2021.0149

Tambour M, Tange B, Christensen R, et al. Effect of physical therapy on breast cancer related lymphedema: protocol for a multicenter, randomized, single-blind, and equivalence trial. BMC Cancer. 2014;14(1):239. doi:10.1186/1471-2407-14-239.

Texto escrito pela Dra. Carolina Fernandes Mestriner
Fisioterapeuta pela FMRP- USP
Especialista em Oncologia e Terapia Intensiva (COFFITO)
Coordenadora de Fisioterapia no A.C. Camargo Cancer Center
Mestre em Ciências pelo PPG Reabilitação e Desempenho Funcional – FMRP/USP

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